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Cajuru: turismo rural é a bola da vez

Lobos-guarás, quatis, macacos-prego, tamanduás-mirim, cachorros-do-mato, jaguatiricas e onças. Espécies de animais admiradas em zoológicos ainda podem ser encontrados em Cajuru, com um pouco de sorte, nas matas da Graciosa e da Santa Carlota, que ainda resistem à ação humana. Os animais ajudam a compor um cenário rico em opções para o turismo rural. Uma vocação adormecida que agora começa a despontar e já coloca Cajuru no mapa do ecoturismo.

Não é para menos. Banhado pelos rios Pardo, Araraquara e Cubatão, além de vários riachos e córregos, como o das Brotas, Ribeirão Vermelho, Cajuru, Mocoquinha e Lavapés, o município abriga cerca de 70 cachoeiras e pequenas quedas d’água que atraem um público aficcionado por trilhas e esportes radicais. Há também grutas e paisagens exuberantes. Não foi por acaso que a Embratur concedeu a Cajuru o “selo de município prioritário para o desenvolvimento do turismo”. Agora, as autoridades locais trabalham para desenvolver o turismo rural. As belezas naturais estão, todas elas, em propriedades particulares.

O primeiro passo foi dado para implementar o turismo rural e agregar valor às riquezas retiradas das terras, como pecuária de corte e de leite e cultivo de cana-de-açúcar, milho, café, forrageiras e hortaliças. Recentemente foi criado o Conselho Municipal de Turismo para mediar ação conjunta entre os proprietários das terras e divulgar o turismo rural com cuidado para não promover uma demanda de turistas maior do que a atual infra-estrutura. São 243 leitos em dois hotéis-fazenda e dois hotéis no centro da cidade. Um terceiro hotel-fazenda está em construção. Há três áreas de campings com capacidade para, pelo menos, 270 barracas. Há bares e restaurantes que servem bem ao turista. O desenvolvimento industrial passa longe de Cajuru.

Uma das maiores razões é a distância das principais rodovias que cruzam o Estado, como a Anhangüera. Cajuru está localizado no entroncamento das rodovias SP 333 e 338, o que ajudou a preservar o ar interiorano que torna aconchegante as pequenas cidades. São 20.788 habitantes, segundo o último censo do IBGE. O turismo rural surge na esteira do novo modelo de desenvolvimento sustentado e abre grandes perspectivas de investimento no município e geração de um novo tipo de emprego para uma mão-de-obra na sua maioria acostumada à lida na lavoura. Desde que foi fundada, há 136 anos, Cajuru sempre esteve dependente da produção agropecuária. Primeiro foi o café.

No início do século passado, só a Fazenda Santa Carlota, da família Sampaio Moreira, possuía cinco milhões de pés de café. A colônia construída na fazenda abrigava cerca de 1 mil trabalhadores rurais, mais que as 700 pessoas que moravam na cidade. Com o declínio do café, a cidade encontrou no algodão a principal fonte de renda, nos anos 60. Nas décadas de 70 e 80, se transformou em uma das maiores bacias leiteiras do estado. O declínio da produção leiteira deu lugar ao plantio de cana-de-açúcar que hoje, segundo a Casa da Agricultura, é o maior cultivo de Cajuru, com 13 mil hectares de área plantada e divide as atenções com a olericultura. Cada vez mais as hortas ganham espaço em pequenas propriedades e com cultivo familiar. Os principais plantios são em estufas climatizadas e abastecem toda a região de Ribeirão Preto.

Mas o terreno tipicamente arenoso, apesar de poder ser corrigido pelas técnicas de plantio atuais, ainda é o mais indicado para o pasto. São 27 mil hectares e um rebanho estimado em 28 mil cabeças entre gado leiteiro, de corte e misto, ainda remanescente da bacia leiteira. São pequenos e médios pecuaristas, na maioria, que se dedicam à produção de leite e derivados de forma artesanal. Outra cultura crescente é o plantio de braquiárias para exportação de sementes. Este ano são apenas 500 hectares, mas a tendência é de aumento a cada safra, devido à facilidade de plantio pelas condições climáticas e de separação da semente da areia.

O novo milênio traz perspectivas inovadoras para Cajuru, com o desenvolvimento do turismo rural e a criação de uma fonte de renda voltada para a preservação dos valores ambientais e que terá reflexo no vasto leque de produção agrícola que ainda se mantém, herdado da época da fundação do município quando os tropeiros que viajavam do litoral para os sertões de Minas e Goiás, faziam parada no povoado criado no entorno da capela de São Bento. A capela foi construída na primeira metade do século XIX em uma vasta área de terras doada por Dona Maria Pires de Araújo e seus filhos. Terras que ficam na transição do cerrado para mata e que recebeu o nome de Distrito de Cajuru em 1846 – em tupi, CAA (mata) YURU (boca), ou seja, “Boca da Mata”.

Dados

  • Cana: 910.000 toneladas
  • Milho: 140.000 sacas
  • Café: 40.000 sacas
  • Hortas: 50 hectares plantados

Agosto/2002

ABAG/RP