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A Colina dos seringais

Os japoneses estão mudando o destino dos seringais da Malásia. Em vez do látex, eles querem a madeira das seringueiras para fazer móveis. Bom para a cidade de Colina, o segundo município produtor da região de Ribeirão Preto, que em 800 hectares, tem 30 mil árvores novas e 320 mil em produção, que forneceram 1,05 mil toneladas de coágulo para a indústria no ano passado. E tudo começou em Colina, quando o governo de São Paulo decidiu incentivar a produção de látex a partir de lavouras novas no Norte e no Nordeste do Estado.

Pouco antes, Joaquim do Val já havia tentado, mas desistiu. Quando a Secretaria da Agricultura renovou o aceno, em 1959, Eugênio Gomes do Val apostou e venceu. Hoje, a Fazenda Santa Helena, conduzida pela viúva de Eugênio, dona Helena, e pelas filhas, Helena Maria Lara Nogueira, Maria Cristina Gasparian, Maria Lúcia e Helena tem 100 mil seringueiras e uma usina de beneficiamento do látex. A história dos japoneses é contada por Maria Lúcia: “A madeira dessa árvore é clara como o marfim e serve para a fabricação de móveis, pisos, escadas... é linda. E na Malásia, os seringueiros são pequenos sitiantes que levam uma vida muito sacrificada. Toda a produção tem de ser vendida para as usinas - todas estatais -, que pagam pouco pelo produto.

Agora, esses sitiantes estão trocando os seringais pelo trabalho nas fábricas de móveis dos japoneses.”. Essa é uma das causas do preço tão baixo do látex da Malásia entrar no Brasil, tirando a competitividade dos produtores brasileiros. O Brasil consome 225 mil toneladas de látex por ano e só produz 88 mil, num mercado mundial de 6,8 milhões de toneladas, dominado pela Tailândia, Indonésia, Malásia, China e Índia, explica o empresário João Sampaio, dono da Interlátex, de Barretos, que processa 340 toneladas por mês de borracha seca, equivalentes a 700 toneladas de coágulo. Sampaio e as do Val concordam que o momento é de estabilidade, depois de um período crítico que durou até 1999.

Para compensar a desvantagem diante do produto importado, o governo criou o Plano de Escoamento da Borracha (PEB). “Hoje, dos R$ 0,85 que o produtor recebe pelo quilo do coágulo de sete dias, R$ 0,31 são subsidiados”, afirma ele. Maria Lúcia diz que o plano tem duração
de oito anos, está no quarto e a partir de 2002, o incentivo terá redução de 20% ao ano, até se extinguir. Os seringais dividem a força do agronegócio de Colina com a cana e a laranja. São 200 empregos diretos, mas na cadeia produtiva, cada emprego na lavoura representa seis na cidade, de 16.700 habitantes, contabiliza o agrônomo Fernando Benezzi, da Casa da Agricultura de Barretos.

“E empregos estáveis, acrescenta o prefeito Dieb Taha, baseado no ‘descanso’ anual que trabalhadores e seringueiras têm a partir da segunda quinzena de julho, até o fim de agosto. Mais: a maior parte deles mora na cidade, ajudam a sustentar o comércio... Graças a Deus temos a borracha.” A partir da sangria, a cadeia produtiva se completa com o transporte do látex para a usina de beneficiamento, dela para a indústria e daí para o comércio.

Maio/2001

ABAG/RP